Núcleo A palavra em suspenso

Nuno Ramos

Balada, 1995

Livro perfurado com bala calibre 38
55/70

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Balada, Nuno Ramos

Balada (1995), de Nuno Ramos, não é uma apologia à violência, mas uma articulação poética entre imagem e forma. É um livro sem palavras, mas que não abre mão de narrativas, construídas a partir de um gesto abrupto repleto de crueza. Contudo, o jogo de palavras do título cria outras referências para essa imagem. Se esta nos remete obviamente a um terreno agressivo e bélico, é preciso também evidenciar os seus opostos. O significado de balada também pode ser um poema popular nórdico, assim como uma dança, uma situação divertida de confraternização ou uma canção romântica de natureza popular. O artista parece se interessar exatamente pelas entrelinhas ou intervalos que são deixados pelos estudos de linguagem e forma.

Com uma tiragem de 300 exemplares, Balada é uma das obras mais conhecidas de Nuno Ramos. Cada um dos livros foi alvo de um tiro de bala calibre 38 que perfurou suas páginas até o momento da sua imobilização. A bala é o índice de um estado de embaralhamento entre ver e ler. Esse tensionamento entre a falta da palavra e um objeto do espectro da violência, que imputa uma imagem de força tempestuosa, é disputado a todo momento. Não há nada a ler a não ser experienciar o furo, o buraco que transmuta o livro em corpo violentado e mortificado. Balada não nos deixa esquecer o conflito que muitos vivem, em particular no Brasil: a circunstância de instabilidade e insegurança. É sobre esse terreno que a poesia encontra o seu espaço, não suavizando-o, mas nos alertando sobre a precariedade da vida.

“Em Balada, o rastro da bala que atravessa o volume do livro se transforma em signo de leitura.”

Felipe Scovino (curador)

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