Núcleo O início da história

Raimundo de Oliveira, Texto de Jorge Amado

Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira, 1966

Xilogravura colorida
Editora Julio Pacello

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Pequena Bíblia, Raimundo de Oliveira

Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira (1966) possui aspecto gráfico próprio da literatura de cordel, ampliando os limites do livro de artista e questionando um olhar pitoresco, e em certa medida depreciativo, que a cultura popular tem no meio burguês das artes visuais. Na literatura de cordel, a característica da manufatura é um dado intrínseco à sua produção. E, no escopo do amplo registro acerca do que é ou pode vir a ser um livro de artista, podemos argumentar sobre algo que é quase preponderante: geralmente as etapas de produção do livro são produzidas pelo próprio artista. Por outro lado, ao trazer a literatura de cordel para esta exposição, afirma-se um condicionamento político, pois uma produção fora dos grandes eixos é visualizada.

“A presença de Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira (1966) não apenas reflete sobre uma produção fora do eixo Rio-São Paulo – Oliveira nasceu na Bahia –, mas também esgarça a ideia sobre o formato do livro de artista, associando-o à literatura de cordel.

Felipe Scovino (curador)

O livro é composto de um poema de Jorge Amado ilustrado por Raimundo de Oliveira. Esse simples encontro já seria motivo de alta densidade poética. Mas o seu lugar nesta exposição é de importância política como forma de pensarmos em uma ampliação para o campo do livro de artista no Brasil. A obra de Oliveira nos faz pensar que livro de artista também é uma produção artesanal e que possui confluência entre cultura, contexto e lugar. É um livro e técnica que criam uma associação direta com a cultura e a memória nordestina (sem esquecer que a temática deste livro está atrelada à religião católica, um dado sociocultural com lastro significativo no Brasil). Ao ser produzido com uma narrativa lúdica e sem perder a sua ligação profunda com a cultura local, Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira reforça a ideia de que o cordel é uma prática realizada em série, intensa, compulsiva e que precisa ser pensada cada vez mais como uma produção densa, longe de estereótipos que a problematizam como naif ou “primitiva”.

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