Núcleo Livro-Carne
Adriana Varejão, Artur Barrio, Claudia Bakker, Fernanda Gomes e Márcio Doctors
As Potências do Orgânico, 1994-1995
Técnica mista sobre papel
9/10
Com uma tiragem de dez unidades, a série de livros As potências do orgânico (1994-1995) foi editada em formato de caixa em 1995 pelo Museu do Açude (RJ). Estes livros foram produzidos a partir da exposição homônima realizada nessa instituição, com curadoria de Marcio Doctors. A caixa contém livros de Adriana Varejão, Artur Barrio, Claudia Bakker, Fernanda Gomes e de Doctors.
Na série, os artistas investigam, cada um a seu modo, uma relação mais intrínseca entre o suporte do papel e a emergência de um corpo dilacerado. Os livros representam índices de corpos, pois estão lá vísceras, sangramentos e machucados. É o surgimento de uma escrita em que os fluidos transparecem, vêm à tona.
A capa do livro de Artur Barrio reproduz a imagem da cancela de uma casa revestida de carne. É uma imagem que alude a uma vontade de ver o mundo sob uma perspectiva mais visceral e trágica. O livro sem título de Fernanda Gomes incorpora curativos à folha de papel como forma de apontar evidências de um corpo (partido). É um livro-corpo-carne que metaforicamente aponta a instância de uma fragilidade e a emergência da angústia. O livro de Adriana Varejão, Manual de primeiros socorros, faz uso de pílulas coladas ao papel como operação cromática, mas também como indício de um organismo doente. Há um senso de desespero e socorro, e há invariavelmente a constituição da página do livro como uma experiência em que a palavra é suspensa e a imagem recorre a sentidos que viabilizam a ideia de um corpo ferido.
“A ideia de livro de artista é muito mais ampla do que simplesmente pensar um livro conceitualmente, materialmente. A ideia de livro de artista está ligada, inclusive, a uma relação mais direta entre artes plásticas e literatura ou entre artes plásticas e o mercado editorial.”
Felipe Scovino (curador)